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quinta-feira, 15 de março de 2007

Aborto: síndrome pós-aborto

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 350/1991)


Em síntese: O artigo, devido a dois especialistas nas áreas da Psicologia e da Medicina revela conseqüências traumatizantes do aborto na mulher que passe por esta intervenção. Em tom muito vivo, descreve os males que tais pessoas vêm a padecer como seqüela do morticínio cuja realidade cedo ou tarde aflora à mente da mulher. Observa a autora que muitas das mulheres submetidas ao aborto são vitimas de imposição e constrangimento; há, po­rém, aquelas que espontaneamente procuram o aborto, sem talvez imaginar quanto isto fere o psiquismo da mulher, que foi feita para ser mãe carinho­sa. Possam as observações da Doutora Wanda Franz PHD, ser úteis a quantas e quantos são interessados pela problemática!

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Publicamos, a seguir, um artigo de índole estritamente científica so­bre as conseqüências do aborto no ânimo da mulher que a ele se submete. É artigo forte e talvez incômodo. Vai publicado, porém, porque reflete a expe­riência profissional de dois especialistas em Psicologia e Medicina; não é di­retamente a palavra de um moralista nem de um teólogo que tenha precon­ceitos contra o aborto, ou seja, partidário de uma filosofia fechada e mes­quinha.

A redatora do artigo é a Dra. Wanda Franz Ph.D., Professora Asso­ciada de Recursos Familiares, Universidade de West Virginia, Morgantown, WV 26505, U.S.A. Redigido em inglês, o trabalho foi publicado em National Right To Life News 14(1): 1-9, 1987 com o título What is post-abortion Syndrome?

O artigo foi traduzido para o português e cedido a PR pelo Doutor Her­bert Praxedes, Professor Titular de Hematologia Clínica do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense. A este ilustre mestre e profissional, a redação de PR agradece a gentileza de sua colaboração valiosa.

O artigo merece atenção porque refere fatos e fenômenos geralmente pouco comentados; pode assim tornar-se útil a todos os interessados em tão candente problema.

Que sabemos das conseqüências prejudiciais do aborto para a mulher? Aqueles que aconselham e executam abortos, sempre afirmaram não haver efeitos psicológicos desfavoráveis importantes decorrentes do aborto e, além disso, nenhum trauma em longo prazo. O problema com tais afirmativas é que essas pessoas. Empregadas ou não em Clínicas de aborto e outras, adeptas dessa prática, nunca estão em condições de avaliar na mulher as conseqüências que se seguem ao aborto. Imediatamente após o ato, o pes­soal clínico simplesmente manda a mulher para casa. E, se ela vier a ter problemas, irá procurar auxílio em outro lugar qualquer.

Uma investigação mais sistemática demonstra que todas as reações pe­rigosas ao aborto ocorrem tardiamente. Este padrão de reação retardada fez com que seja muito mais difícil delimitar, avaliar e caracterizar o problema. A par disso, a comunidade de saúde mental tem sido muito lenta em repor­tar a reação desfavorável ao aborto. Eu sou de opinião de que o aborto é um procedimento traumático, que tem repercussões negativas para a mulher, mas cujas manifestações objetivas podem ser retardadas. Recentemente al­guns terapeutas têm observado pavores irracionais e depressões ligadas a experiências abortistas e rotularam o problema como “Síndrome Pós-Aborto” (SPA). O Dr. Vincent Rue a comparou à “Desordem Ansiosa Pós-Traumática” (DAPT), a qual a comunidade psiquiátrica reconhece como uma reação em longo prazo encontrada nos veteranos da Guerra do Vietnã, que subitamente exibem comportamento patológico anos após a experiência vivida na guerra. Rue acredita que a SPA é uma forma de DAPT. É significativo o fato de que a Associação Americana de Psicólogos levou doze anos para reconhecer oficialmente a DAPT como uma entidade clí­nica.

2. Questão básica

Uma questão importante é: Todas as experiências abortivas são auto­maticamente estressantes ou apenas algumas mulheres têm problemas? Se apenas algumas mulheres sofrem da SPA, quais são as características daquelas mais susceptíveis? Estas são questões que não podem ter resposta plena agora.

Rue acredita que existam várias categorias de reações: algumas mulheres respondem com grande trauma, outras com reações mo­deradas, enquanto um terceiro grupo pode vir a nada sofrer posteriormente.

A terapeuta Terry Selby, de outro lado. Acredita que cada aborto produz um trauma na mulher. O aborto é, antes de tudo, um procedimento físico, o qual produz um choque no sistema nervoso e deve provocar um impacto na personalidade da mulher, Além das dimensões psicológicas, ca­da mulher que se submeteu a um aborto deve encarar a morte de seu filho que não nasceu. Como uma realidade social, emocional, intelectual e espiri­tual, Tanto Selby como a Dra. Anne Speckhard trabalharam com mulheres que tentaram ignorar os efeitos do aborto, e ambas acreditam que, quanto maior é a rejeição, maior é a dor e a dificuldade quando a mulher finalmente enfrenta a realidade da experiência abortiva.

3. Premissas psicológicas

Para entender esta conclusão e ter alguma base para raciocínio e pes­quisa da SPA, são necessários que entendamos a orientação teórica dos terapeutas e seus "pressupostos".

A primeira premissa é de que existe um processo inconsciente em ação em cada pessoa que controla os estados emocionais e, em última análise, o comportamento. Se uma verdade é por demais desagradável, é possível aos seres humanos suprimir ou reprimir a realidade na parte inconsciente de sua mente, de forma a não ter que conscientemente pensar nela, esta é uma faculdade muito importante, porque nos protege da necessidade de pensar em acontecimentos muito dolorosos.

Uma segunda premissa postula que, mesmo sendo possível reprimir fatores reais, eles, apesar disso, continuam a afetar nossos estados emocionais e nosso comportamento. Quando existe excesso de rejeição, a dor reprimida nos traumatiza de alguma outra forma. De acordo com os clínicos, quando as mulheres que abortaram, rejeitam ou reprimem sua experiência, os desa­justamentos podem incluir grande descontrole emocional quando próximas a crianças, um medo irrealista de médicos, uma incapacidade de tolerar um exame ginecológico rotineiro, ouvir o som de um aspirador de pó ou ser sexualmente estimulada, etc.

O importante a ser entendido sobre essas manifestações é que elas são reações irracionais a acontecimentos perfeitamente normais; e as mulheres não têm consciência de sua ligação com a experiência abortiva. e somente através da terapia que a ligação freqüentemente emerge.

Assim, a partir dessa perspectiva teórica, admite-se que mesmo mulhe­res lesadas por suas experiências abortivas podem, de boa fé, alegar não te­rem sofridas reações adversas, já que os problemas foram reprimidos, não ha­vendo noção consciente dos mesmos, Além disto, de acordo com a mesma teoria, quanto maior é a repressão, quanto maior a rejeição maior é o dano à personalidade da mulher, Como mencionado antes, Selby acredita que, quanto maior é a negação, mais graves serão as reações e mais doloroso será o tratamento.

David Reardon, em seu levantamento de mais de 200 mulheres pertencentes ao movimento “Mulheres Vitimadas Pelo Aborto” (WEBA), encontra também evidência em suas observações de que, quanto mais tar­de a realidade é admitida, mais difícil é a solução do problema. Assim, a conclusão é que cada aborto tem efeitos prejudiciais sobre a mulher.

4. Aprofundando...

Os defensores do aborto alegam que somente as mulheres com proble­mas psicológicos anteriores têm dificuldade em suportar as experiências abortivas. As próprias mulheres discordam dessa proposição. Contudo, pode ser verdade que mulheres com problemas prévios sejam mais suscetíveis às reações mais graves. Nós simplesmente não temos elementos para responder a essas questões de imediato. Podemos, entretanto, concluir com certeza que essas mulheres deveriam ser protegidas de traumas futuros induzidos por experiências abortivas.

Quais são os problemas que uma mulher que provocou aborto, deve encarar? Antes de tudo, e principalmente, a necessidade de enfrentar o ato de provocar um aborto. A verdade é que, quando uma mulher aceita subme­ter-se a um aborto, ela concorda em assistir à execução de seu próprio filho. Esta amarga realidade que ela tem de encarar, se opõe vivamente aquilo que a sociedade espera que as mulheres sejam; pacientes, amorosas e maternais.

Isto também vai contra a realidade biológica da mulher, que é plasmada precisamente para cuidar e nutrir seu filho ainda não nascido. Assumir o papel de ''matadora", particularmente de seu próprio filho, é extremamente doloroso e difícil.

O aborto é tão contrário à ordem natural das coisas que ele automaticamente induz à sensação de culpa. A mulher, entretanto, deve admitir sua culpa para poder conviver com ela.

Existe uma escola de pensadores, seguida pela maioria dos promotores de aborto, que afirma que a admissão da culpa não é necessária. Sustentam eles que, se uma mulher se sente culpada, é porque alguém “colocou a culpa nela”. O que eles sugerem, é que isto acontece porque a mulher foi forçada pelos adeptos do movimento Pró-Vida a “assumir uma atitude de culpa”, que cria uma dor desnecessária e não leva a coisa alguma. Presumem eles que a culpa não emerge do interior da mulher, mas, ao contrário, é incutida para dentro dela, Contudo, a experiência das mulheres que se submeteram a. aborto, não está de acordo com essa afirmação. Ao contrário, as mulheres pertencentes ao movimento de “Mulheres Vitimadas Pelo Abor­to” relatam que a culpa se manifestou e cresceu com a própria experiência abortiva: foi parte da reação própria ao aborto e não infundida nelas por ou­tras pessoas.

A primeira providência enfatizada pelos clínicos que trabalham com mulheres que se submeteram a aborto, é fazer que elas chorem pelo filho perdido. A realidade é que uma criança morreu. e a resposta humana natural à morte é a tristeza. Se a mulher É impedida de assim reagir, ela terá dificuldade de encarar a realidade da experiência abortiva.

Entristecer-se significa que ela tem noção de seu filho e que está cho­rando por uma determinada pessoa que morreu. Obviamente isto é mais di­fícil quando se trata de uma criança que nunca foi vista. Era menino ou me­nina? Qual a cor dos cabelos e dos olhos que ele ou ela teria?

O problema é ainda mais intrincado no caso do aborto, porque o cor­po da criança é geralmente mutilado, e é difícil para a mulher pensar na criança cujo corpo não mais existe.

O Doutor Joannes Angello compara isso ao problema que enfrentam os pais de uma criança que teve morte violenta e cujo corpo não é encontrado de modo que não pode ser velado ou enterrado.

Como se pode resolver o problema? Em primeiro lugar, a mulher deve admitir que a criança está morta, de maneira que ela possa chorar por ela. Para chegar a este ponto, a mulher tem que quebrar suas resistências para permitir o reconhecimento da culpa. A culpa pode ser então utilizada tera­peuticamente para ajudá-la a aceitar o fato de que ela errou, pedir perdão e ser curada.

5. Como remediar?

Os terapeutas desenvolvem estratégias diferentes para ajudar a mulher. Por exemplo, Speckhard faz com que a mãe visualize seu bebê dando-lhe uma boneca para representar o filho morto. Ela é encorajada a dar um nome à boneca e falar com ela sobre seus sentimentos e tristeza. Isto lhe dá uma oportunidade de se "desculpar" com o bebê morto pelo que ela lhe fez, e começar a prantear a criança perdida.

A abordagem de Selby requer que a mulher exteriorize a dor de sua experiência. Ela acredita que ela deva admitir como reais e liberar as emo­ções contidas e que nunca foram expressas por terem sido reprimidas pela rejeição. Isto pode ser um procedimento emocionalmente muito doloroso.

Uma abordagem inteiramente diferente é, contudo necessária para mulheres com um ano ou mais de experiência abortiva e que pedem uma alternativa ou um programa do WEBA. Elas geralmente já admitiram sua culpa e sofrem por ela, mas necessitam de alguém para ajudá-las no sofri­mento. Assim, existe uma variedade de problemas e necessidades e uma di­versidade de estratégias para ajudar as mulheres no processo de cura. A des­peito dessa diversidade existe algo que todos os terapeutas têm em comum: é acreditarem que a cura deve ser encarada como um acontecimento espiri­tual. Frei Michael Mannion sintetizou sua posição, quando disse: "O Autor da vida deve curar a perda da vida." Somente pela aceitação do amor e do perdão de Deus a mulher pode ser curada.

Qual a natureza dessa cura? Pode ela apagar da memória o aborto co­mo se ele nunca tivesse ocorrido? A resposta a esta última questão é "não". Como uma mulher do WEBA colocou: "Pode alguém ser curada da culpa, mas a tristeza fica sempre".

Assim, o primeiro propósito da experiência de cura é superar os efeitos adversos da culpa admitida, mas o remorso pelo ato é para toda a vida. Por mais completa que seja a cura, a realidade do ato em si não pode ser apa­gada.

O bebê abortado é uma pessoa humana real, cuja ausência será sentida pela mãe e por aqueles ao redor dela enquanto eles viverem. Os novos rela­cionamentos que a mãe vier a desenvolver serão afetados pela presença da criança morta. Crianças nascidas subseqüentemente ao aborto terão um ir­mão morto, cuja realidade terá sempre um impacto em suas vidas.

A experiência clínica de Angello com tais crianças tem sido importante. Os pais se caracterizam por uma proteção patológica aos filhos, receando perdê-los por algum acidente ou doença. O desejo obsessivo de outros filhos é decorrente da necessidade de terem uma criança para colocar no lugar da falecida. Este comportamento é extremamente prejudicial à evolução e ao desenvolvimento normal dos filhos.

Assim os efeitos do aborto atingem a vida de cada indivíduo à volta da mulher, incluindo seus amores e filhos futuros.

Por exemplo, como alguém diz a seus próprios pais que um seu neto foi morto e nunca participará de um Natal ou de uma excursão ao Zoológico? Como se diz a um filho que nasceu depois, por que um irmão ou uma ir­mã foram mortos e, mais importante, por que ele em particular não o foi?

Como explicar o aborto a um futuro marido que deseja se casar e ter uma família? Que dizer, se a mulher ficou estéril? Seria a esterilidade causada pelo aborto? Estas são questões duras, às quais se deve uma resposta. Felizmente, a mulher que se curou, estará apta a lutar para superar esses problemas, mas isto nunca será fácil.

5. Porque o aborto?

De que maneira são as mulheres vitimadas pelo aborto? Primeiro de tudo, nós sabemos que a maioria das mulheres que se submeteram a aborto, teriam preferido outra solução para o problema. Elas são claramente vítimas de uma decisão tomada por outros, contudo, muitas mulheres realmente escolhem o aborto. Podem ser consideradas vítimas? Os dados sobre a síndrome pós aborto indicam que a culpa e a dor inerentes ao aborto em si mesmo vitimam a mulher, Como uma mulher, membro do WEBA, coloca; "Uma vez que uma mulher se torna mãe, ela será sempre mãe, tenha ou não nascido seu filho. O filho morto fará parte de sua vida, por mais longa que ela seja."

O aborto não é a "solução fácil" de um grave problema, mas um ato agressivo, que terá repercussões contínuas na vida da mulher. É nesse senti­do que ela é vítima de seu próprio aborto e temos a obrigação de lhe dizer esta verdade.

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